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Editorial

Mala pesada

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Mala pesada

As vendas de vinhos importados caíram em 2013, e isso pode ser reflexo das muitas garrafas que os viajantes brasileiros trazem na bagagem.

No momento em que escrevo este texto, ainda não há números exatos sobre as vendas de vinho em 2013. Estudos do Ibravin dão conta de que, no período de janeiro a outubro do ano passado, o vinho nacional teria tido crescimento de 10% e os importados, queda de 9%. Muitos importadores com quem falei cresceram um pouco em faturamento, mas caíram um tanto em volume de garrafas.

Muito se especula sobre a quantidade de vinhos que entram na mala de turistas que viajam para o exterior. Esse volume pode ser bem maior do que se imagina e ninguém quer se pronunciar a respeito. Afinal, é antipático criticar essa moleza que temos atualmente, mas o assunto merece um pouco mais de atenção.

Não sei e ninguém sabe quem foi que teve a ideia, mas o fato é que, de dois ou três anos para cá, a cota de 2 litros de vinho permitidos para trazer do exterior, sem pagamento de imposto de importação, subiu para 12 litros! Essa medida coincidiu com o crescimento de brasileiros viajando para o exterior e verificando a escandalosa diferença de preços de vinho e de tudo em relação a nosso país. Essa diferença é tão grande que já existe gente viajando apenas para trazer vinhos por encomenda. Dá para pagar a viagem e ainda ter lucro!

A razão é bem simples, esses 500 dólares de vinho no Brasil custariam no mínimo 2.500 dólares entre custos, taxas, impostos, subornos, comissões, ST, margens etc, que todos sabem. Ou seja, é o próprio governo que incentiva essa prática com sua política absurda de impostos, burocracia, negligências, portos atrasados e lentos etc.

Impossível não lembrar o caso do chá na Inglaterra nos anos 1750. Os impostos eram proibitivos, consumia-se chá contrabandeado, o governo arrecadava pouco. Então, o governo baixou drasticamente os impostos, o contrabando deixou de existir, o consumo cresceu e criou-se o hábito do chá, que perdura até hoje.

Então, voltando ao caso dos vinhos, há outra coisa que poucos sabem ou se sabem não falam. Se você enviar por remessa outras 16 garrafas de vinho dentro do mesmo valor, tudo bem. Pois, se a Receita Federal lhe chamar para se explicar, você estará dentro de sua cota, uma vez que não há cruzamento com as outras 16 garrafas que você trouxe na mala. 
Que tal?

Vamos fazer uma conta: você viaja com a mulher e um filho maior de idade. Juntos, trazem 48 garrafas nas malas e outras 48 por remessa. São 96 garrafas de vinho, que totalizam 3.000 dólares, mas que valem aqui 15.000 dólares.

Mais sério ainda: imagine que você trouxe vinhos acima desse valor e os declara. Tudo bem, basta pagar o imposto de importação do que ultrapassar os 500 dólares. Assim, você não precisa esperar que ele chegue, nem precisa pagar por todo aquele custo com transporte, taxa de porto, subornos, selos, transportes, estocagem, marketing, comissões de venda, margens diversas de intermediários, contadores, despachantes, Reefer, espera no porto, desembaraço, ICMS, PIS, Cofins, ST etc.

Se você acha que é pouco, basta saber que hoje 10 milhões de brasileiros viajam para o exterior. Vamos imaginar que 1% deles faça uso desse expediente. São então 100.000 pessoas trazendo 32 garrafas, que totalizam 3.200.000! Que tal? São 100 milhões de dólares que valeriam aqui 500 milhões de dólares.

Quem foi que teve essa ideia, afinal? Será que um dia o governo brasileiro vai entender que precisa desonerar e desburocratizar o setor do vinho para o mercado crescer, gerar empregos e arrecadar mais?


Didú Russo é presidente do Comitê do Vinho da FecomercioSP.

Artigo publicado na revista Prazeres da Mesa em 15/01/14, pág.110.

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