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Editorial

O problema da água em São Paulo

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O problema da água em São Paulo

Apesar do enorme avanço tecnológico dos últimos séculos, existe uma área na qual o homem fracassou completamente: controlar o clima e o regime de chuvas.

Civilizações inteiras, como a dos Maias, na Península de Yucatan, no México, desapareceram no passado devido a mudanças climáticas que tornaram a região muito seca, inviabilizando a agricultura. Com os meios que temos hoje, podemos evitar essas catástrofes completas, mas não os sérios inconvenientes que decorrem da falta de água.

No Brasil, estamos atravessando um desses períodos de crise, no Sudeste do país e, particularmente, em São Paulo, que atravessa a maior seca da história.

Não é de surpreender, portanto que os reservatórios de água para atender à população da Região Metropolitana de São Paulo apresentem problemas para garantir um abastecimento regular, principalmente o Sistema Cantareira. Eles foram construídos ao longo dos anos, acompanhando o crescimento explosivo da população da região, e cumpriram bem seu papel nos últimos 80 anos.

Sucede que São Paulo se desenvolveu perto das nascentes dos rios, como o Tietê, onde há pouca água, e não na foz desses rios, na qual eles já receberam água de afluentes e desembocam no mar, como em Paris e Londres. O que cabe fazer agora é trazer água de ainda mais longe, como faziam os romanos, com seus aquedutos, 2 mil anos atrás.

Contrariamente ao que se possa pensar, esses investimentos têm sido feitos. Nos últimos 10 anos, mais de R$ 6 bilhões foram investidos apenas na Região Metropolitana de São Paulo, para transporte de água, redes de distribuição e ampliação de reservatórios, cuja capacidade aumentou cerca de 10%. Outros investimentos de bilhões de reais estão em andamento.

Enquanto isso, o que se pode fazer é racionalizar o consumo de água e diminuir perdas, reduzindo, com isso, o consumo total. Há, de fato, espaço para essas reduções. O consumo médio por habitante em São Paulo é de cerca de 150 litros/dia, acima, portanto, do mínimo indispensável recomendado pela Organização Mundial de Saúde, que é de 100 litros/dia.

A redução pode ser alcançada via racionamento ou por meio da racionalização do consumo. Racionamento é uma medida extrema, que prejudica os mais pobres, que não têm meios de estocar água. A melhor maneira de fazê-lo é premiar as pessoas por economizar água.

A estratégia que a Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp) está adotando - descontos de 30% na conta para quem diminuir o consumo em 20% - encoraja as pessoas à adoção de boas práticas, como eliminar vazamentos de torneiras, evitar banhos prolongados ou lavar a calçada com água potável.

O mais interessante é que, quando a necessidade de redução de consumo acaba (devido a chuvas abundantes), essas boas práticas permanecem e os hábitos de consumo realmente mudam. É o que ocorreu em 2001 e 2002, diante do risco de racionamento de energia elétrica. A população se conscientizou de que precisava diminuir o consumo da eletricidade e conseguiu fazê-lo.

A única razão pela qual não temos hoje um racionamento de energia elétrica, isto é, um “apagão”, como em 2001, é a utilização de usinas térmicas (a gás e a óleo diesel), muito caras de operar, levando ao aumento das tarifas de eletricidade. O “apagão” elétrico de 2001 foi substituído por um “apagão financeiro” que está custando bilhões de reais ao povo brasileiro. O mesmo não pode ser feito com água potável.

Os problemas de água em São Paulo são sérios, mas não são únicos. Todo o Sudeste atravessa uma seca prolongada e a geração de eletricidade nas hidroelétricas de Minas Gerais e São Paulo estão sofrendo com isso porque seus reservatórios não são suficientes para enfrentar períodos de seca prolongados. Até a hidrovia Tietê-Paraná se ressente hoje da falta de água.

O programa da Sabesp teve sucesso extraordinário, com a adesão de 80% dos usuários da Cantareira. Com outras medidas e a transposição de bacias distintas, o consumo do reservatório da Cantareira foi reduzido em cerca de 30%. Com isso, espera-se que o problema seja superado com as chuvas esperadas para o fim do ano, até que a captação de água do São Lourenço - que depende ainda de autorizações federais - se materialize.

José Goldemberg é presidente do Conselho de Sustentabilidade da FecomercioSP.

Artigo publicado no jornal Correio Braziliense em 01/08/14, pág. 11-001.

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