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Sustentabilidade

Reuso da água é alternativa do comércio para crise em São Paulo

Grandes empreendimentos comerciais aumentam procura por empresas especializadas na implementação do sistema

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Reuso da água é alternativa do comércio para crise em São Paulo

As empresas estão preocupadas com a queda da capacidade de abastecimento de água do sistema Cantareira. Formado por cinco reservatórios, o sistema é responsável por quase 50% do abastecimento da região metropolitana de São Paulo. No dia 2 de junho, o nível do Cantareira chegou a 24,7% - índice que leva em conta o volume de água útil e a reserva técnica, conhecido como volume morto, localizado abaixo dos reservatórios das represas do sistema. A General Water, que opera no formato de fornecedora privada de água potável e sistemas de reciclagem de água, recentemente viu a procura por propostas dobrar. 
 
“Até o ano passado, 95% das nossas propostas eram geradas por prospecção da nossa equipe comercial. De dois meses para cá, a procura espontânea em relação a um cenário normal aumentou de 100% a 200%. Passamos a receber diariamente uma série de consultas de empresas que ouviram falar da nossa empresa ou que abordamos antes, mas acabaram não fechando o contrato na época”, comenta Fernando de Barros Pereira, gerente comercial da General Water. Como o aumento da procura é recente e as negociações costumam ser longas – “porque envolvem contratos de longo prazo, com duração geralmente de 10 anos” –, ainda não é possível dizer quais propostas vão ser concretizadas.  
 
De acordo com Pereira, a análise envolve um estudo profundo da viabilidade de implementação do sistema. Isso faz com que a negociação dure em média 6 meses. “Mas com a crise no abastecimento de água atual, as empresas consumidoras querem abreviar essa negociação. O que dá para dizer é que nem todas as consultas viabilizam a efetivação de um contrato”, pontua. Dos 100 contratos em operação atualmente, 50% são com empreendimentos comerciais e shoppings centers. Os outros 50% restantes se dividem entre indústrias, clubes, hospitais e universidades. 

Na análise do gerente comercial da General Water, a busca por alternativas para o fornecimento de água, especialmente por parte de empreendimentos comerciais, é para não perder faturamento caso não possa abrir portas, além de evitar a perda de  competitividade. “Se o espaço oferece um sistema alternativo, atrai mais lojistas, que passam a ter certeza de que não faltará água. Enquanto os concorrentes estão preocupados, eles estarão tranquilos”, avalia Pereira.
 
Como funcionam os sistemas de reuso de água

Como a General Water, existem no Brasil algumas empresas especializadas em instalar e operar sistemas privados de fornecimento e reuso de água. Por enquanto, a implementação de sistemas desse tipo compensa em negócios que utilizam grandes volumes de água, como shoppings centers ou indústrias, por exemplo. Isso porque a operação geralmente é oferecida pela fornecedora em determinados formatos. 

Um deles consiste no fornecimento de água potável e venda e instalação da operação de reciclagem e reuso dessa água no próprio local. Nesse caso, toda a implantação do sistema pode ficar por conta da fornecedora (uma espécie de concessionária privada de água), que toma para si a responsabilidade de providenciar poços artesianos no local (para obter a água potável) e por tratá-la para o reuso. A empresa consumidora paga à empresa fornecedora do sistema pela quantidade de metros cúbicos de água utilizada durante o mês. 

Outra opção é a empresa consumidora contratar apenas a instalação e operação do sistema de tratamento da água (que é fornecida em sua versão potável por uma concessionária pública, como a Sabesp) para a reutilização no próprio local. 

“Além de fornecermos água potável, também fornecemos um sistema que capta a água do esgoto e efluentes (água de pias, chuveiros, bacias e mictórios) e as trata, transformando-a em água não potável, mas adequada para o uso em bacias sanitárias, torres de ar refrigerado e na irrigação de jardins”, explica Thales de Almeida Brandão Souza, responsável pela área de desenvolvimento de negócios da Ecopolo, empresa especializada no desenvolvimento, implantação e operação de sistemas de tratamento de água e efluentes.

Os empreendimentos comerciais respondem hoje por 60% da carteira de clientes da empresa, que opera no Brasil inteiro. Um desses clientes é o Santana Parque Shopping, localizado na Zona Norte da capital paulista. O sistema opera desde o início das atividades do shopping, em funcionamento há sete anos.  Com o investimento, que custou R$ 450 mil, o empreendimento comercial economiza cerca de R$ 45 mil por mês ao utilizar a água de reuso nos banheiros, no sistema de ar condicionado e na irrigação dos jardins. 

Naturalmente, a principal vantagem ao optar por este sistema é a economia de água. “Mas deixamos de despejar água na rede coletora da Sabesp, diminuindo o congestionamento na rede. Além disso, o nosso sistema é confiável e não temos preocupação com falta de abastecimento”, diz o gerente de operações do Santana Parque Shopping, Ricardo Omar. A água de reuso, que representa 30% do consumo de água do shopping, também abastece os banheiros e o sistema de ar condicionado do cinema e de três das quatro lojas-âncora instaladas no local. O espaço conta com 180 lojas no total e recebe cerca de 20 mil pessoas por dia. 
 
Serviço privado é complementar 

Para implementar os sistemas de obtenção de água potável e de reciclagem de água, é preciso obter licenças com órgãos estaduais. Para a obtenção de água potável no próprio local, com a construção de poços artesianos, por exemplo, é preciso uma licença do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE). Nesse caso, o sistema demora por volta de seis meses para funcionar, somando o tempo da obtenção da licença e da implementação do sistema.Já o tratamento de esgoto e reuso de água demora em torno de nove meses para funcionar, somando o tempo de aquisição da licença (que é obtida junto à Cetesb, no caso do Estado de São Paulo), projeto e obra. 

“Ainda não percebemos maior agilidade dos órgãos públicos para autorizar os projetos, mas é algo que acreditamos que vai acontecer”, prevê Pereira, da General Water. Isso porque, segundo ele, empresas como a General Water acabam prestando um serviço complementar ao das concessionárias públicas, que hoje já adotam uma postura de incentivo à redução do consumo e à reciclagem de água. 

A Sabesp, por exemplo, que atende a 60% da população do Estado de São Paulo, lançou o programa de incentivo à economia de água em fevereiro deste ano, para clientes abastecidos pelo Sistema Cantareira: o cliente que reduzir 20% do seu consumo ganha 30% de desconto na conta de água. Em 1º de abril, o governador Geraldo Alckmin anunciou a expansão do bônus para todos os municípios da Região Metropolitana de São Paulo, que são atendidos pela Sabesp: São Paulo, Arujá, Barueri, Biritiba Mirim, Caieiras, Cajamar, Carapicuíba, Cotia, Diadema, Embu, Embu-Guaçu, Ferraz de Vasconcelos, Francisco Morato, Franco da Rocha, Itapecerica da Serra, Itapevi, Itaquaquecetuba, Jandira, Mairiporã, Mogi das Cruzes (bairros da divisa), Osasco, Pirapora do Bom Jesus, Poá, Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra, Salesópolis, Santana de Parnaíba, São Bernardo do Campo, Suzano, Taboão da Serra, Vargem Grande Paulista. O bônus vale para todos os clientes da Sabesp, residenciais e comerciais, e está em vigor até dezembro de 2014. 

Por enquanto, apenas grandes empresas – como centros comerciais e industriais – conseguem implantar os sistemas de obtenção e reciclagem de água em seus próprios terrenos. No entanto, a tendência é que, com o aumento da demanda e os incentivos por parte do governo, esse tipo de solução seja adotada por pequenas e médias empresas também. “Quanto maior a demanda, as empresas fornecedoras dos sistemas ganham escala e fica mais viável implementar a operação”, raciocina Pereira, da General Water. 
 

Todos devem economizar

A economia de água deve ser feita tanto nas empresas quanto nas residências. Na análise do presidente do Conselho de Sustentabilidade da FecomercioSP, José Goldemberg, há espaço para a economia. “Precisamos usar menos água. Há lugar para isso porque o consumo médio de água em São Paulo é de 150 litros por pessoa por dia. Pela recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), o índice adequado é de 100 litros. Ou seja, é possível reduzir”, explica.
Residências, pequenos e médios comerciantes podem adotar algumas medidas para reduzir o consumo como conservar em dia a manutenção de torneiras e descargas para evitar vazamentos, varrer calçadas e quintais com vassoura e utilizar baldes na lavagem ao invés de mangueira, não molhar o jardim com água potável, entre outras ações.

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