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19/05/2025Vendas no varejo têm alta de 8,9% em fevereiro, mesmo com inflação e juros elevados, aponta pesquisa
Mercado de trabalho aquecido e maior renda estimulam setor; nos dois primeiros meses do ano, variação foi de 9,4%
As vendas do comércio varejista paulista cresceram 8,9% em fevereiro, em relação ao mesmo mês em 2024. Os dados são da Pesquisa Conjuntural do Comércio Varejista (PCCV), elaborada mensalmente pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) em parceria com a Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo (Sefaz-SP). No mês, o faturamento real atingiu R$ 114,6 bilhões — R$ 9,3 bilhões acima do apurado no ano passado, a maior cifra para o mês desde 2008 [tabela 1].
[TABELA 1]
Faturamento Comércio Varejista — Estado de São Paulo
Fonte: Sefaz-SP/FecomercioSP
Com esse resultado, a variação acumulada nas vendas varejistas no ano foi de 9,4%, o que representa um faturamento R$ 20 bilhões superior ao obtido no mesmo período de janeiro a fevereiro de 2024. Contudo, é importante ressaltar que o montante diz respeito às receitas, e não à lucratividade.
Todas as atividades pesquisadas mostraram aumento no faturamento real no mês, sendo estas os segmentos de lojas de vestuário, tecidos e calçados (21%); autopeças e acessórios (16%); concessionárias de veículos (13,9%); lojas de eletrodomésticos, eletrônicos e lojas de departamentos (12,9%); outras atividades (8,1%); farmácias e perfumarias (7,7%); materiais de construção (6,8%); lojas de móveis e decoração (6,2%); e supermercados (5,2%).
De acordo com a FecomercioSP, esse desempenho revela expansão, sustentada principalmente pelo emprego e pela massa de renda em alta, reforçando o poder de compra das famílias e a mudança do carnaval para março impactou positivamente o faturamento de fevereiro, com mais dias úteis em comparação com 2024.
No entanto, a Federação alerta que, diante da inflação próxima a 6%, o poder de compra tende a ser corroído progressivamente — e o crescimento da massa de rendimentos deve desacelerar no segundo semestre do ano. Além disso, o aumento da taxa Selic impõe restrições ao consumo de bens duráveis.
Capital paulista
Em São Paulo, as vendas no varejo cresceram 9,1% em comparação com o mesmo período do ano passado. A cidade atingiu um faturamento de R$ 35,4 bilhões em janeiro, quase R$ 3 bilhões a mais do que em fevereiro de 2024, o melhor resultado da série histórica desde 2008. Dessa forma, a taxa acumulada no ano foi de 9,2%, representando um aumento de R$ 5,9 bilhões em relação ao apurado entre janeiro e fevereiro do ano passado.
As nove atividades apresentaram alta no mês de fevereiro: lojas de eletrodomésticos, eletrônicos e lojas de departamentos (20,6%); lojas de vestuário, tecidos e calçados (19,5%); lojas de móveis e decoração (19,3%); autopeças e acessórios (17,6%); concessionárias de veículos (10,3%); supermercados (7,4%); farmácias e perfumarias (5,2%); materiais de construção (4,8%); e outras atividades (3,5%).
[TABELA 2]
Faturamento Comércio Varejista — Cidade de São Paulo
Fonte: Sefaz-SP/FecomercioSP
Desempenho dos segmentos
Os setores de autopeças e acessórios e de concessionárias de veículos registraram um crescimento expressivo, mesmo sendo tradicionalmente sensíveis aos juros altos. O avanço pode soar contraditório diante de uma política monetária ainda restritiva, mas o dado revela que o crédito continua abundante no mercado. Para o consumidor brasileiro, a taxa nominal de juros importa menos do que o valor da parcela e a possibilidade de parcelamento. O ritmo acelerado nas vendas indica que o financiamento segue acessível, especialmente por meio de bancos ligados a montadoras ou linhas promocionais de crédito.
No segmento de eletrodomésticos e eletrônicos, promoções agressivas, condições facilitadas de crédito e o aumento da renda disponível no curto prazo ajudam a explicar esse salto na demanda.
Já o setor de vestuário, tecidos e calçados — altamente sensível à renda — beneficiou-se de um fevereiro com mais dias úteis. Além disso, liquidações de início de ano e compras antecipadas para o outono contribuíram para o bom desempenho dessas lojas.
Por outro lado, os supermercados cresceram abaixo da média geral. O dado aponta para um consumo mais contido nos itens essenciais, influenciado pela inflação dos alimentos e por uma migração parcial das compras para atacarejos. Também pesa o efeito da alta de preço, uma vez que, ainda que o consumidor esteja gastando mais, não leva mais produtos para a casa.
Nota metodológica
A Pesquisa Conjuntural do Comércio Varejista no Estado de São Paulo (PCCV) utiliza dados da receita mensal informados pelas empresas varejistas ao governo paulista por meio de um convênio de cooperação técnica firmado entre a Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo (Sefaz-SP) e a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). As informações, segmentadas em 16 Delegacias Regionais Tributárias da Secretaria, englobam todos os municípios paulistas e nove setores (autopeças e acessórios; concessionárias de veículos; farmácias e perfumarias; lojas de eletrodomésticos e eletrônicos e lojas de departamentos; lojas de móveis e decoração; lojas de vestuário, tecidos e calçados; materiais de construção; supermercados; e outras atividades). Os dados brutos são tratados tecnicamente de forma a se apurar o valor real das vendas em cada atividade e o seu volume total em cada região. Após a consolidação dessas informações, são obtidos os resultados de desempenho de todo o Estado.